Fauno Filmes – Produções Audiovisuais Inovadoras para Marcas e Projetos

Por que se limitar à sétima arte quando ele abrange todas as artes?

O Oscar 2019 está chegando.

Nos próximos dias, diversos veículos da imprensa mundial vão ter suas atenções voltadas para Hollywood. Assim como em todos os anos, reportagens e hashtags sobre os indicados, possíveis ganhadores, repercussões do prêmio e o estado atual da academia serão publicados. Uma verdadeira celebração para os amantes do cinema, aqueles que tanto gostam da sétima arte.

“Sétima arte”?

Mensurar, enquadrar e padronizar é uma característica intrínseca do ser-humano. De Darwin para cá, muitos estudos apontam que a nossa capacidade de síntese é um dos preponderantes para que a nossa raça tenha prevalecido sobre as demais. Organizar as coisas em padrões, transformando aquilo que é complexo em conhecimento palatável, se mostrou uma das formas mais eficazes de propagar a informação.
Talvez isto explique o porquê de termos tantas listas espalhadas pela internet. Só hoje, quantos “top5” ou “os 10 melhores alguma coisa” você já viu passando na sua timeline?

Listar ajuda em racionalizar, seja por atribuirmos a cada item um peso diferente baseado em sua importância ou cronologia. E é exatamente isso que ocorre toda vez que chamamos o cinema de “sétima arte”. Afinal de contas, deve existir outras seis anteriores, não?
Em 1912, cunhado pelo crítico Ricciotto Canudo no “Manifesto das Sete Artes”, o termo sugere que o cinema representa a síntese de todas as formas precedentes de representação cultural. Para o teórico, um filme não deveria ser visto como mero conteúdo simplista voltado ao rápido consumo das massas, mas sim algo semelhante a outras manifestações associadas as “belas artes”, como a música, teatro, pintura, escultura, arquitetura e literatura.


Um dos primeiros cinemas do mundo, o Central Hall na Inglaterra (1909), oferecia entretenimento consideravelmente barato em relação a outras opções da época, como concertos e peças de teatro. Por este motivo, nos seus primeiros anos de existência, filmes eram considerados uma forma de arte inferior, julgados com pouca relevância artística e comercial. Ricciotto Canudo, ao cunhar o termo “sétima arte”, procurava acabar com esta imagem.

Na tentativa de melhorar a impressão que as pessoas tinham sobre o cinema, Canudo acabou sendo extremamente seletivo com as manifestações artísticas que julgava terem sido suas formadoras. Escolhendo somente entre aquelas que detinham maior prestígio dos críticos e entusiastas da época, outra problemática do termo diz respeito a simplicidade com que definiu o cinema. 

Na tentativa de transformar aquilo que é complexo em conhecimento palatável, resumiu o audiovisual apenas a soma das outras seis formas de arte. Desta maneira, esvaziou sua força, não somente por não perceber suas características próprias, mas principalmente naquilo que toca às novas possibilidades temáticas e estéticas que se vislumbrava com o audiovisual. 

Por este motivo, sua tentativa em demonstrar que o cinema foi feito a partir de um processo histórico baseado em linguagens já consolidadas, se mostrou não somente impreciso, mas também efêmero.

Para exemplificar esse raciocínio, cabe trazer um filme que elucida vários dos pontos acima dispostos. 

Na obra “Le Voyage dans la lune” de Georges Méliès, fica evidente alguns problemas referentes a conceituação de Canudo. Para começar, a película de 1902 não contava com cores e muito menos som. Desta maneira, a primeira e terceira arte da lista divulgada pelo crítico não se faziam presentes e, mesmo assim, o filme de Méliès é considerado um marco para a cinematografia mundial por todas as suas inovações estéticas e narrativas.

Será então que para o cinema existir precisa realmente da soma de todas as seis partes? Talvez, a soma das partes não pode gerar algo novo? Ou então, será que não existem outras manifestações culturais que também possam fazer parte desta festa?

A resposta está no próprio “Le Voyage dans la lune”. Além de diretor, Georges Méliès também foi ilusionista e mágico. Por este motivo, muito de suas contribuições ao cinema vieram do ambiente circense, das trucagens que tanto enganavam e surpreendiam suas plateias. Na edição, fez da magia uma forma de criar situações inimagináveis para a época. 

E o mais incrível: Tudo isso em 1902, dez anos antes do termo “sétima arte” ser cunhado por Canudo.


Le voyage dans la Lune (1902) narra a jornada surrealista e fantásticas até a lua e é um dos filmes mais importantes e influentes do cinema de ficção científica / Lembrado como o “mágico do cinema”, Georges Méliès inovou ao criar e popularizar técnicas como o stop-motion, exposição múltiplas, câmera acelerada e dissolução de imagem.
Algo tão volátil como as artes, que tem suas linguagens misturadas a todo momento, se torna algo difícil de ser enquadrado em padrões capazes de virar uma única lista. A titulo de curiosidade, e por já ter caído no imaginário popular, relacionar o cinema ao termo “sétima arte” se tornou recorrente e – até certo ponto – charmoso.

Contudo, devemos sempre pensar que o audiovisual é muito mais do que o agrupamento das linguagens anteriores, afinal de contas, a soma das partes é maior do que o todo. Além disto, outras manifestações artísticas que já existiam na época, ou criadas posteriormente, também foram incorporadas pelo cinema ao longo de sua trajetória.

Acreditando nisso, nós da Fauno Filmes realizamos nossos projetos audiovisuais não somente pensando nas seis formas anteriores de arte para entregarmos a sétima, mas sim explorando todas as possibilidades que um vídeo pode oferecer. 

Temos todo o cuidado em coordenar a música (trilha sonora), teatro (interpretação, movimento e narração), pintura (cor, luz e enquadramento), escultura (composição), arquitetura (locações e espaço) e literatura (roteiro). Mas, também sabemos que o audiovisual pode – e deve – extrapolar somente estas formas de arte pensadas por Ricciotto Canudo. 

Em tempos de internet, sendo pensadas de maneira ordenada e tendo um propósito em comum, as linguagens se misturam e geram novos formatos em audiovisual. Sabendo disso, precisamos ficar sempre atento às mudanças e permanências que possam ajudar na elaboração de um projeto.

Por que ser a “sétima arte” se ele pode ser “todas as artes”?