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Como a história do Cinema ao Ar Livre pode auxiliar o futuro do audiovisual?

Atualizado: 31 de jan. de 2022



Seja em filmes como Grease, ou em clipes de música de estilo retrô como Everybody Talks, da banda Neon Trees, os brasileiros sempre tiveram uma certa familiaridade com o conceito de cinema ao ar livre, embora seja muito menor a parcela que realmente possa dizer frequentar espaços como esse.


Os estadunidenses sempre cobiçaram a ideia de realizar diversas atividades sem precisar saírem de seus carros. Eles foram, afinal, os criadores dos Drive Throughs em restaurantes, uma ideia importada para o Brasil nas grandes franquias de Fast Food. Então não é surpresa que a invenção do Cinema Drive-In tenha sido ideia deles. O primeiro teve sua data de estréia em 1915, na cidade de Las Cruces, no estado de New Mexico. O Teatro de Guadalupe era híbrido e possuía espaço para setecentas pessoas sentadas no auditório e mais 40 carros estacionados com vista para a tela. Entretanto, a invenção foi patenteada por um magnata da química chamado Richard M. Hollingshead, da cidade de Camden, Nova Jersey. Em 1932, ele fez diversos testes de projeção, e em 1933, foi oficialmente considerado o criador do cinema ao ar livre.


Legenda: No filme Grease, Danny e Sandy vão a um encontro em um drive-in. Durante o filme, Danny tenta dar um passo além no relacionamento, o que deixa Sandy em choque.


No mesmo ano, ele abriu seu primeiro empreendimento na área, com espaço para 400 carros. Seu slogan, na época, era: "Todas as famílias são bem-vindas, não importa quão barulhenta sua criança seja". O local não gerou o lucro esperado e foi vendido três anos depois. Apesar disso, a semente estava plantada, e diversos outros Drive-In Cinemas começaram a pipocar pelos Estados Unidos.


As condições econômicas e sociais dos EUA permitiram o auge dos cinemas ao ar livre nas décadas de 50 e 60. Isso porque comprar carros se tornou cada vez mais fácil, e houve um aumento significativo de nascimentos por volta dessa época. Em 1947, havia 155 Drive-In Cinemas nos EUA. Em 1951, esse número era de 4.151. A tecnologia também auxiliou na popularização do meio: em 1941, já eram usados alto falantes dentro dos carros, e eles permitiam ajuste de volume particular.


O cinema ao ar livre não foi uma invenção anterior às salas de cinema tradicionais, mas concorrente. O público alvo familiar e o preço reduzido para manutenção do espaço geraram um custo menor para os clientes. As famílias podiam cuidar de suas crianças, e os jovens podiam ter encontros com certa privacidade. Além disso, era uma alternativa mais informal às salas de cinema. Outro diferencial era a venda de uma variedade de produtos que ofereciam mais conforto à clientela, como máquinas de vender fraldas e aquecedores de garrafa. Todos esses detalhes também resultaram na fama dos Drive-Ins de serem espaços "imorais", o que causou, junto com a popularização da televisão e aluguel de filmes, que as décadas seguintes fossem de grande declínio.


No Brasil, o Cine Drive-In é o último de seu tipo e fica em Brasília. Foi até tema de filme nacional, lançado em 2015 com direção de Iberê Carvalho. O espaço tem 46 anos de história e em 2017 se tornou Patrimônio Cultural e Material do Distrito Federal. Com capacidade para cerca de quatro mil pessoas, enfrentou diversos altos e baixos, principalmente devido ao crescimento de shoppings como espaços de lazer e exibição de filmes. Além disso, o grande pré-requisito dos cinemas ao ar livre não agrada a todos: Eles só podem funcionar à noite. Isso limita o número de sessões e a atratividade de distribuidoras de cinema que visam o maior lucro possível de suas produções.


Legenda: O Cine Drive-In, em Brasília, foi fundado em 1973 dentro do Autódromo Nelson Piquet e funciona todos os dias da semana, das 18:00 às 22:00. Sua tela de projeção tem 312m² e o sistema de som funciona através de uma estação de rádio FM que pode ser acessada em cada carro.


Entretanto, tudo isso pode mudar. Com a pandemia de COVID-19, vários estados decretaram a suspensão de eventos públicos, inclusive o Distrito Federal. Mas para aqueles que, mesmo após o fim do decreto, optarem por continuar com o isolamento social, os cinemas ao ar livre podem ser uma ótima alternativa. Em Curitiba, a Pedreira Paulo Leminski e o espaço da Família Madalosso já se preparam para sessões de cinema, shows e palestras ao ar livre, com a audiência no conforto de seus carros. No caso do mais famoso restaurante de Santa Felicidade, o menu é composto por refrigerante (se beber, não dirija!) e polenta frita.


Nos Estados Unidos, a situação é muito similar. Em entrevista ao Estadão, o proprietário do Ocala Drive-In, John Watzke, viu quase todas as seis mil salas de cinema dos EUA fecharem as portas durante a pandemia, mas ele decidiu manter seu cinema ao ar livre funcionando, lembrando do Furacão Katrina, em 2005, na qual, de acordo com suas palavras, "qualquer coisa que nos oferecesse cinco minutos de uma vida normal era apreciada".


Infelizmente, a existência de espaços que estimulem o distanciamento social não é uma realidade para todos. Para isso, alguns estabelecimentos e eventos precisaram encontrar alternativas durante a pandemia. O Cine Passeio, reinaugurado há um ano em Curitiba, está oferecendo webinars semanais gratuitos sobre cinema. O Festival anual Varilux, de cinema francês, disponibilizou diversas obras para acesso em casa. E as salas de cinema dos shoppings podem usar esse período de suspensão de atividades para adaptarem seus espaços. Cadeiras mais espaçadas e higienização com materiais químicos são duas das medidas sendo consideradas para a retomada.

Legenda: O Planeta Drive-In, como é chamado o projeto da Pedreira Paulo Leminski, ainda não tem data de abertura. A tela de projeção é em 4K e tem 162m². A arena pode receber até 117 carros em cada evento, que é previsto para acontecer de quinta-feira a domingo, das 19:30 às 22:00. Os ingressos serão vendidos por aplicativos.


O futuro do cinema ainda é incerto, mas é interessante observar as tentativas de retomada que respeitam as diretrizes de isolamento social, mesmo que isso signifique trazer à tona um método retrô de assistir filmes. Além disso, poder ter acesso ao lazer fora de casa em segurança durante esta pandemia é um privilégio, mas isso não significa que esses novos formatos deveriam ser elitizados, com preços que não correspondem à realidade de uma possível crise econômica no país. Isso poderia apenas reforçar o uso de plataformas de streaming em casa, gerando impactos mais graves ao cinema no futuro, durante o novo normal.

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